MANON

 

TRANSCENDÊNCIA

 

Texto Theo Lessa

 

Série Jardim das sinapses - Óleo sobre canvas, 150 x 90 cm

 

 

Em “Transcendência”, Sergio Mauricio Manon constrói uma paisagem que não apenas se mostra ao olhar — ela nos atravessa. Pintada ao longo de cinco anos, a obra manifesta um tipo de tempo que não é cronológico, mas vivencial. É tempo de amadurecimento, de escuta, de travessia interior.

 

A pintura se alimenta da memória sensível de muitos lugares, mas sua raiz pulsa na Mata Atlântica brasileira. Cada flor, cada curva de tronco, cada ave em voo participa de uma inteligência vital — um saber que antecede e excede a linguagem.

 

Esse saber, feito de forma e vibração, é uma espécie de transcendência imanente: está no mundo, mas não se limita a ele.

 

Três pássaros formam um triângulo sutil no espaço pictórico — um gesto que articula simbologias místicas e filosóficas, deixando ao olhar atento a tarefa de decifrar camadas ocultas. Como os desenhos de constelações, esse triângulo aponta para algo que só existe quando olhamos com demora.

 

 

Mais que representação, a pintura se faz presença. É um campo onde a matéria da tinta encarna o invisível. Não há um centro dominante. Tudo se relaciona — cores, galhos, atmosferas, texturas — como se a própria natureza tivesse pintado a si mesma através das mãos do artista.

 

 

“Transcendência” é, nesse sentido, um manifesto visual sobre a possibilidade de habitar o mundo com reverência e atenção. Em tempos de aceleração e desatenção, essa obra devolve ao gesto da pintura sua potência ancestral: lembrar que a arte ainda pode ser lugar de encantamento e descoberta.